maio 10, 2016

Feminista: ser ou não ser


A palavra feminista já me tinha chegado aos ouvidos umas quantas vezes, ao longo dos anos, mas sempre com um sentido pejorativo. Tinha-a como um sinónimo de machista, mas aplicada no feminino. Só há relativamente pouco tempo é que me cruzei com o termo a sério e me debrucei sobre ele e foi quando encontrei o livro Todos devemos ser feministas, da Chimamanda Ngozie Adichie.

Feminista: uma pessoa que acredita na igualdade social, política e económica entre os sexos.


Nunca tinha pensado muito sobre o assunto, mas já o sentia bem enraizado em mim, mesmo sem lhe dar um nome. Lembro-me de ser miúda e o meu pai me pedir para ir buscar as taças da sobremesa, enquanto os meus irmãos continuavam sentados na mesa. Quando tinha de o fazer, ia sempre contra vontade, mas com a resposta na ponta da língua. Também senti, ao longo do meu crescimento enquanto adolescente, aquela pressão social de ter de ser uma boa dona de casa. A minha mãe sempre me pediu ajuda para as tarefas domésticas, em vez de o fazer com os meus irmãos. Estender a roupa, pôr a mesa, apanhar a roupa do estendal, fazer as camas e por aí fora. Sei bem que os meus pais não faziam estas coisas com uma intenção específica ou com o propósito de eu um dia vir a ser uma excelente dona de casa, enquanto os meus irmãos seriam os reis do sofá. A verdade é que também estes aspectos lhes foram incutidos como coisas perfeitamente normais. Como se houvessem trabalhos de homem e trabalhos de mulher.


É essa normalidade que me causa a maior das revoltas, porque a mulher ainda é vista como uma coisa fraca. As nossas opiniões são "opiniões de histéricas" e "parecemos umas galinhas quando nos juntamos". Talvez isto seja só fraco conhecimento de causa da minha parte, mas nunca vi nenhuma mulher a trabalhar nas obras. Como também nunca vi um homem florista. Há tempos ouvi um senhor dizer "é muito pior uma mulher bater num homem do que um homem bater numa mulher". Será possível que isto caiba no pensamento de alguém? O feminismo, ao contrário do que muita gente pensa, não pode ser generalizado e colocado dentro do frasco dos direitos humanos. Se existe feminismo, é porque ainda há um percurso enorme a percorrer pelos direitos da mulher e pela igualdade de género. O feminismo não nasceu para as mulheres se virarem contra os homens. O feminismo nasceu para homens e mulheres, juntos, quebrarem as ideias ridículas que ainda existem em torno do género feminino e para que a barreira entre os sexos se atenue. 


É preciso lembrar que ser mulher não é ser menos. Não temos de ensinar as mulheres a terem vergonha porque não se depilaram ou porque estão sentadas com as pernas abertas. Não temos de julgar quem anda com um decote sensual. Quando uma rapariga é violada, tudo gira em torno do que a rapariga fez para que isso acontecesse. Nada justifica um abuso, seja ele verbal ou físico. Nada justifica termos de ter cuidado com o que dizemos ou fazemos, porque "uma menina não se deve comportar assim". Uma menina tem tanta liberdade como um menino: para pensar, para dizer e para fazer. Uma menina é alguém, por muito que lhe digam que não. Percebam que a única coisa que nos diferencia é o que temos entre as pernas.

I guess I am a modern-day feminist. I do believe in equality. Why do you have to choose what type of woman you are? Why do you have to label yourself anything?
- Beyoncé Knowles

Sou feminista, sim. E irei lutar sempre pela igualdade de género. Até que as ideias feitas desapareçam.
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